Está chegando o álbum BORDEJO, trazendo novas canções gravadas na base 'violão e voz', algumas com ilustres participações: Sol Donati (voz), Luiz Mauro Filho (piano) e Zé Ramos (guitarra).
Além de músicas que compus integralmente, o álbum traz parcerias com Necka Ayala, Sol Donati, Luiz Mauro Filho e José Martí.
Deixo aqui meus agradecimentos a todos parceiros e músicos participantes e também aos talentosos aportes profissionais de Tiago Becker (engenheiro de som), Caco Argemi (foto) e Cármen Nunes (arte).
É música para ouvir em quietude... Um amigo comentou que, ao ouvir as gravações, teve a sensação de estar na mesma sala de onde eu estava a tocar. Achei bacana essa constatação. Tomara que isso seja sentido por mais ouvintes e que possa se tornar uma característica marcante e benfazeja desse trabalho.
O “disco” chega primeiro na Bandcamp, site onde pode-se escutar, ver a ficha técnica das gravações e acompanhar a letra e, se quiser, comprar as faixas ou o álbum inteiro para download.
Sobre as músicas:
1. MENOS OU MAIS (música de Mário Falcão, letra de Necka Ayala)
Menos ou mais é uma canção que custei bastante para achar o modo adequado para harmonizar ao violão. Alguns anos se passaram desde Necka Ayala me passou a letra para musicar. Quando ficou pronta, chegamos a editá-la e tudo o mais, porém, de minha parte, apenas recentemente surgiu a maturidade para uma gravação. Gosto muito dela e da vocação "pop" que ela leva...
NÃO QUEIRA QUE EU TE QUEIRA BEM
QUEIRA QUE EU TE QUEIRA MAIS
E DE ONDE ESTAS VEJA TAMBÉM
QUE QUANTO MAIS ESPERAS, MENOS TRENS
NÃO PEÇA QUE EU TE DEIXE EM PAZ
NÃO MEÇA AMOR QUE NÃO SE FAZ
E PR'ONDE FOR LEVE TAMBÉM
UM TANTO DE VONTADE DE VOLTAR
NÃO DEIXA QUE EU DEIXE PRA LÁ
FAÇA COM QUE EU FAÇA MAIS
E QUANDO FOR DEIXA TAMBÉM
UM GOLE PRA MAIS TARDE – A SEDE VEM
E APAREÇA SEM QUERER
JUSTO QUANDO EU MAIS QUISER
QUANDO VIER, VEJA MEU BEM
QUE QUANTO MAIS SE ENTREGA, MAIS SE TEM
2. BORDEJO (música e letra de Mário Falcão)
Bordejo é um poema em bossa que homenageia o Rio de Janeiro, suas curvas quentes, sua flora, sua “fauna” cultural. Também traz a lembrança de que há poucos séculos atrás, todo aquele esplendor era habitado apenas por povos originários, e que vários locais guardam nomes em idioma Tupi.
PEDRA, PÉ, ARPOADOR
BONDE DO IMPERADOR
BORDEJANDO CURVAS EM BRASIL
FLUMINENSE BEIJA FLOR
TOM JOBIM, NOEL, SINHÔ
UM JARDIM BOTÂNICO BRAVIO
FOTO, VIDEO, GRAVADOR
DA JANELA MEU AMOR
DOCE PÃO NA MÃO DE QUEM NÃO VIU
TUDO LÁ TUPINAMBÁ,
GUARATIBA, IRAJÁ
INHAUMA, JACAREPAGUÁ
ASA DELTA, GIRASSOL
ZUM DE CIRCO VOADOR
REDENTOR PLANANDO...
3. SANTIAGO (música e letra de Mário Falcão)
Santiago é o nome do personagem de Ernest Hemingway que protagoniza a novela “O velho e o mar”. Ocorreu que, após leitura, percebi que havia um momento do livro (que para mim foi o ápice da sensibilidade emprestada ao seu enredo) em que o pescador se identifica com o peixe que está sendo fisgado. Ao sentir que o peixe é grande e que, por isso, deve ser tão idoso quanto ele, Santiago sente dó do animal e, por instantes, hesita em prosseguir com tal pescaria...
SANTIAGO TEVE PENA DO PEIXE QUE COMEÇARA PESCAR
ERA PEIXE, ERA LUA, ERA MAR
AMARELA BARRA DO AMANHECER, SEU PENSAMENTO MAREIA
REFLETIA PERFEIÇÃO DO UNIVERSO, MISTÉRIOS DO FUNDO DO MAR
QUANTO O BARCO DÁ NA PRAIA
ERA ÁGUA, ERA AREIA, ERA AMOR
ERA PEIXE, ERA LUA, ERA MAR
4. FRÁGIL PAISAJE (música de Mário Falcão e letra de Sol Donati)
Frágil paisaje é fruto de interação à distância. Conheci a artista argentina Sol Donati em uma live durante os anos da pandemia. Naquele evento, havia uma liderança de um povo originário do Acre e, daqui do sul do Brasil estávamos presentes Josué Krug, amigo músico, e eu (se não me falha a memória). Depois, passei a “seguir” a artista e vi que ela é também uma ativista incansável e que vive em La Pampa. Quando surgiu a harmonia e melodia desta “milonga tangueada”, pedi para ela contribuir com a sua rica poética, que “bebe” nas mesmas fontes que saciaram a sede de Athaualpa Yupanqui e tantos outros expoentes da cultura do interior da Argentina.
SIN PAUSA OSCURECIÓ
SU AURA RUBIO TRIGAL.
NO SIMULÓ EL ADIÓS.
SE DICE QUE ESBOZÓ
COMO VOCABLO FINAL
GESTO SUTIL
Y AHONDÓ ENTRE LAS SOMBRAS.
AL ALBA DESPERTÓ
SIN LA PRESENCIA RITUAL.
¿QUÉ SERÁ DEL AMOR?
SI EMPALIDECER O NO
ANTE LA AUSENCIA REAL
SÓLO SERÁ BREVE REFLEJO
ANTE LA INQUIETA SOLEDAD.
DEMASIADO ES EL SOL.
HOJARASCA LA FE.
LA TRAMA SE CERRÓ
YA NO LOGRA ENTRELAZAR
NI PRESAGIAR EL HOY.
EN TINTA CONFESÓ
SU ESTRECHO SENTIPENSAR.
NO REPARÓ EL DECIR.
SE SABE QUE ESBOZÓ
EL MANIFIESTO FINAL:
¨DONDE HAY AMOR
FECUNDA LA LIBERTAD¨
VAGAMUNDO DOLOR.
AGÓNICO DESPUÉS.
TARDE PARA ABRASAR
LAS PAVESAS DEL AYER.
FRÁGIL PAISAJE.
5. INTERIOR (música de Alexandre Vieira, letra de Mário Falcão)
Interior recebeu seu primeiro registro no álbum “Novo”, do parceiro Alexandre Vieira. Lá a música é cantada pela linda voz da Débora Dreyer mais um grupo vocal. Após a passagem do amigo, Janaína Lobo me ofertou a possibilidade de “herdar” a viola brasileira (caipira) do Ale. É uma recordação que guardo com carinho e que já me proporcionou bons aprendizados. Entendi que nossa parceria poderia ficar bonita e “afinar” com a instrumentação da viola que era do Ale. Essa foi uma das primeiras gravações desse álbum e a segunda em que utilizo a viola (a primeira vez foi na faixa “Nosso canto” que está no EP “Feito em casas”, de 2023).
CHUVA PASSOU,
DEIXANDO AQUI
CHEIRO DE SI
SOL LEVANTOU MAIS DE UMA VEZ
A SENSATEZ EMBALANÇOU
ENTREI NO MAR
DA SOLIDÃO
ÁVIDA MÃO
FICOU NO AR QUAL BEIJA-FLOR
CHEIRO DE AMOR PRA DAR
EU ME VIRO, SIGO SÓ
SÓ COMIGO, MULTIDÕES
PÉS EM OUTRAS DIREÇÕES
LEVANTANDO PÓ
ENVEREDO RUMO SUL
NÃO PERGUNTO ONDE VAI
NA ESTRADA DEUS É PAI
PEGO CÉU AZUL
NÃO SEI CAMINHO CERTO
POSSO ERRAR FELIZ
LEVO DESTINO ABERTO E CICATRIZ
ESPREGUICEI O TEMPO
POUSADO PRA VOAR
ABRE ALAS, TÔ QUERENDO CHEGAR
NO ACONCHEGAR INTERIOR
6. COM AS CORES DE UM SONHO (música de Luiz Mauro Filho e letra de Mário Falcão)
Com as cores de um sonho é minha segunda parceria com o maestro Luiz Mauro Filho (a primeira é “Olhar Siamês”, EP ‘Feito em casas’, 2023). Foram dois presentes muito lindos que recebi. Demorei anos até começar a escrever essas letras. A mais recente, foi essa, deste álbum, que, em forma de poema, imagina a chegada e integração de um imigrante que veio para a nossa Abyayala.
CHEGOU DO OUTRO LADO DO MAR
SEM NUNCA ENTENDER O QUE VIU
PENSAVA NEM ACREDITAR
NO TANTO QUE A VIDA PARIU
JOGOU SEU RECEIO PRO CÉU
BULINDO COM A IMENSIDÃO
DE ALMA PINTADA
COM AS CORES DE UM SONHO
DEIXOU VIR O TRANSE
DANÇANDO SEM PLANOS
NA FESTA DO SOL
7. O AGORA É O MELHOR LUGAR (música e letra de Mário Falcão)
O agora é o melhor lugar é outro presente. Neste caso é um presente que levei para a Clarinha quando fui visitá-la. Durante aquela viagem me surgiram as palavras-chave que figuram na letra e que remontam a temas como ancestralidade, personalidade, passeios e presentes...
CLARA BONITA
MANHÃ DE VESTIDO DE CHITA
TARDE QUE INVADE, SAUDADE, LUAR
DIAMANTINA
PRAIANA, AREIA MAIS FINA
NA ONDA, NO VENTO, NA SOLA DO PÉ
BLANCA BANDERA
DO AFETO E DA PAZ
DRIBLA CILADAS,
NANÃ
ONÇA PINTADA
NA PORTA DO SOL
O AGORA É O MELHOR…
Citação final: “na beira da praia, ouvindo a pancada das águas...”
8. CULTIVO UMA ROSA BRANCA (música de Mário Falcão sobre poema de José Martí)
Cultivo uma rosa branca surgiu quando entrei em contato com os poemas de José Martí (Cuba). Tenho orgulho de saber que a versão que compus serviu como estímulo para a realização do álbum “José Martí em canto”, onde vários artistas compuseram músicas sobre a obra do escritor cubano. E também tenho gratidão a essa canção e à AJM-RS, pois com os shows de lançamento do álbum em que ela foi gravada por primeira vez, pude subir em palcos do Brasil, Cuba e Uruguai.
CULTIVO UMA ROSA BRANCA
EM JULHO COMO EM JANEIRO
PARA O AMIGO VERDADEIRO
QUE ME ESTENDE A MÃO FRANCA
E PARA AQUELE QUE ARRANCA
O CORAÇÃO COM QUE VIVO
CARDO, URTIGA NÃO CULTIVO
CULTIVO UMA ROSA BRANCA